quarta-feira, dezembro 1

DIÁLOGO NATALINO

DIÁLOGO NATALINO
Vera Vilela
01/12/2008

- Pai. Escrevi essa cartinha pro Papai Noel, você coloca ela no correio pra mim?
- Mas meu filho, você ainda acredita em Papai Noel?

-Claro pai! Porque eu não ia acreditar?
- Meu filho, Papai Noel não existe, quem compra seus presentes sou eu, todo ano. Eu compro e quem se dá bem é o velhote?

-Olha pai, não fala assim, que o Papai Noel não gosta.
-Você já está bem grandinho e precisa parar de acreditar nessas besteiras.

-Filho, você não acha estranho um velho barrigudo de barbas brancas levar presentes pras crianças no mundo todo? Se fosse verdade já teriam proibido ele de trabalhar, sabe como é... lei do idoso.
-Pai. Ele é velho, mas é santo, ele pode tudo e consegue entregar presentes no mundo todo, é assim quase igual o super-homem, só que o super-homem não existe né?

-E aquela roupa ridícula, toda vermelha e quente pra burro, num calor como o nosso o que um homem faz vestido assim.
-Puff! Ai pai você não entende mesmo, não vê que ele mora lá naquele lugar cheio de neve?

-Mas aqui não tem neve filho.
-Mas lá em cima nas nuvens é muito frio né pai?

-É filho é muito frio.
-Então...

-Mas aquele trenó com renas mágicas, onde já se viu?
-E você queria que ele andasse do que? De trem? De avião?

-Tá certo filho, de avião ele não daria conta de entregar tudo.
-Viu pai? Aprendeu?

-Mas se eu te disser filho, que nunca coloquei suas cartinhas no correio? Que eu as jogo fora sempre?
-Eu vou achar que o Papai Noel é ainda melhor do que pensei, porque ele adivinha meus pedidos.

-Filho. Se você nunca viu o Papai Noel como sabe que ele existe?
-Do mesmo jeito que eu sei que você me ama, papai. Não dá pra ver o seu amor.

-É filho. Vou correndo levar sua cartinha ao correio.
-Tá bom pai, mas não vai entregar pro Papai Noel do shopping, aquele é falso, a barba tem elástico.

A CALCINHA BRANCA


A CALCINHA BRANCA
Vera Vilela
- Geraaaaaaaaaaldo!
- O que foi mulher? Quer me matar do coração?
- Geraldo do Céu!
- Fala!
- Já são mais de dez horas da noite.
- E daí?
- Daí que hoje é dia 31 de dezembro.
- Oras mulher, volte a dormir, eu estou cansado.
- Não! Eu esqueci de comprar uma calcinha branca nova para a passagem de ano.
- Meu Deus! O que tem a calcinha com o Ano Novo?
- Dizem que traz sorte!
- Me deixa dormir mulher.
- Não senhor, se eu não entrar no novo ano de calcinha nova branca, posso ter muito azar.
- Deixa de sandice e dorme.
- Está bem!
- Aleluia!
- Rooooooooooooonnnnnnnnck...
-Geraaaaaaaaaaaaaaldo!
-Minha Nossa Senhora! O que foi? A casa está pegando fogo? Bombeiroooooooooooo!
-Não! A calcinha!
-Mas que diabo de calcinha?
-A calcinha branca. São 11 horas e eu estou sem minha calcinha branca.
-Levante então e ligue para uma de suas irmãs.
-Boa idéia!
-Alô! Não Lucineide, não morreu ninguém, eu é que vou sofrer muito se você não tiver uma calcinha branca pra me emprestar.
-O que?
-Não tem?
-E o que eu vou fazer?
-...............................
-Ge! Nem te digo o que minha irmã me mandou fazer. E agora?
-Volte a dormir mulher. Estou com sono.
-Não vou conseguir dormir. E se eu finalmente estiver grávida?
-O que tem a ver sua possível gravidez com a calcinha branca?
-Oras bolas Ge! Se for menino e eu entrar o ano pensando na calcinha branca, ele pode se desviar do caminho natural de sua masculinidade.
-O queeeeeeeeeeeeeeee? Nem pensar. Pode esperar. Vou dar um jeito nisso agora!
-Vai sair pra comprar uma calcinha para mim?
-Aqui está!
-Mas.....mas....
-Tome! Vista isso e durma!
-Nem morta, vestir uma cueca sua?
-Sim. Uma cueca branca, nova. Nosso filho não vai sofrer por sua causa.
-É! Pode ser. Até que ficou confortável.Boa noite Ge.
-Boa noite!

(texto escrito em 01/12/2008)

UM TRISTE CONTO DE NATAL

UM TRISTE CONTO DE NATAL
Vera Vilela
01/12/2008

Mariana esta sobre a laje de sua casa olhando o céu. Uma estrela pisca para ela que, aperta em suas mãozinhas - a cartinha que escreveu - para o velho de barba branca que viu na televisão da vizinha.
Fecha os olhos e pede:
- Senhor Barbudo! Quero uma bicicletinha igual a da Carol pra poder passear com meu pai quando ele chegar do serviço.
Ela amassa a cartinha, já não é mais necessária. Desce para sua casa e dorme.
No sonho o Senhor Barbudo chega numa carroça vermelha puxada por dois cavalos e entrega a sua bicicleta.
Amanhece.
Ela corre até o portão e vê o pai ser tirado de dentro de uma ambulância. O motorista então diz:
- Ele foi atropelado com a sua bicicleta O dono do carro deu este presente, disse que era pra melhorar o Natal da menina.
Era uma bicicletinha.
O pai nunca mais saiu da cama. A mãe vendeu a bicicleta porque a Mariana nunca a usou.