quinta-feira, julho 30

FLASH 11

Eu sou do tempo em que a mãe mandava e a gente obedecia. Simples assim. E lá estava eu, nos meus 7 ou 8 anos, na beira do rio com um saco de papel com gatinhos recém nascidos dentro e, por ordem da mãe, deveria jogá-los na água. Fiquei ali aterrorizada com essa ideia, pensando em como eles iriam morrer lentamente: afogados. Me faltava coragem, eu chorava, mas deveria obedecer.
Pensei então que seria melhor eles morrerem mais rápido e joguei com toda a minha força aquele saco contra a ponte de cimento por sobre o rio. Antes que o saco batesse na ponte eu me virei de costas, tampei os ouvidos e corri de volta para casa. Amedrontada, triste.
Até hoje essa imagem volta à minha mente e me sinto muito mal.
As mães, ás vezes, podem ser muito cruéis.

Flashes de vida.

terça-feira, julho 21

FLASH 10

Eu queria aprender a andar de bicicleta então, meu irmão Carlinhos, resolveu me ensinar. Fomos os dois, ele no selim e eu no cano. Em um certo momento ele largou o guidão e disse:
- Vai, leva você agora.
E fomos os dois parar dentro do rio.

Flashes de vida

segunda-feira, julho 20

FLASH 9

E lá estava eu toda arrumada, vestido novo, ansiosa, esperando por ele. Cada encontro era especial, era muita paixão. Quando o vi chegando meu coração disparou, como sempre. Ele se aproximou e só então vi que ao seu lado estava outra garota, de mãos dadas. Veio até mim e disse:
- Oi, esta é minha namorada.
Eu perdi o chão, o ar e daí pra frente, durante muito tempo, a vontade de viver.
Um homem pode ser muito cruel, muito!

Flashes de vida

sexta-feira, julho 3

FLASH 8


Eu estava cheia de problemas, de todos os tipos, e não enxergava uma solução para nada. Morando longe de toda a família, minha mãe tinha acabado de se acidentar e estava hospitalizada. Ela era a única voz com que eu contava de vez em quando. Resolvi então ligar para uma pessoa, até hoje eu nem sei o motivo porque essa pessoa nem era assim tão próxima a mim.

A pessoa atendeu o telefone e, quando soube que era eu, logo foi dizendo:
- Olha, se for dinheiro que você quer, eu sinto muito, mas tenho gastado muito com isso e com aquilo e estou com problemas em casa, blá blá blá blá e blá.
- Não é nada disso não, eu só queria dizer que, se você precisar, eu estou aqui. Respondi já segurando o choro e desliguei.
Voltei para casa ( eu estava num orelhão) e senti que esse chute forte que levei mudaria para sempre a minha vida.
Não era dinheiro que eu precisava, eu queria alguém para conversar, contar meus problemas, como tantas vezes eu fiz com os outros. Achei que essa pessoa, por ser da família, iria me ouvir e ajudar a resolver.
A partir disso eu soube que tudo o que acontecia em minha vida e dos meus filhos era um problema exclusivamente meu e de mais ninguém, e só eu resolveria. Esse chute, de alguma forma, me fez tomar outro rumo e crescer.
E assim foi e é. Por isso não admito que ninguém me repreenda por nenhuma atitude que eu tome na minha vida.

Flashes de vida.