Faltando muito pouco pra completar seus 96 anos, ele espera. Espera quase que todo o tempo: sozinho. Ainda há tanto pra falar, conversar, mas ele espera: sozinho. Às vezes em companhia de uma filha ou outra. Ele espera.
Tem esperanças ainda, tem planos. Sozinho. Agora tudo o que ele quer é uma viagem, com suas filhas, todas. Ele espera agora, por isso. Quem sabe uma despedida desses dias tão sofridos e sozinhos. Deitado em sua cama companheira, olhar perdido no teto do quarto já tão conhecido. Ele espera. De quando em vez uma linda e tão esperada surpresa de um filho homem pra conversar, contar, sonhar, mas, na maior parte do tempo: Sozinho.
Depois de tantos anos, tantas lutas, tantos sofrimentos, depois da perda de sua companheira, ele espera: Sozinho.
Assim é a vida: esperar, sozinho ou não, depende apenas do amor e da lembrança daqueles a quem ele dedicou seu existir.