sábado, setembro 19

SÓ ELA PRA ME FAZER RIR

Claro que tinha que ser ELA né? Mariazinha tira graça de tudo. A cirurgia de colocação de protese dela virou "catraca nova" e agora quando soube da minha doença "neuralgia do TRIGÊMEO" me mandou emails falando tudo sobre "Os trigêmeos vocalistas", história, foto e vídeo. Imagina se ela sabe que essa doença tem outro nome: "TiK Douloureux" o que ela não vai inventar?

Veja só:






Os Trigêmeos Vocalistas

Luís Nassif
La Insignia. Brasil, junho de 2007.


Há algumas cenas de infância que ficam registradas em todos seus detalhes na memória. Lembro-me até hoje no barracão do fundo da casa do meu tio Léo, com minhas primas mais velhas, a Cristina e a Rosa Maria ensaiando a primaiada para um "esquete" -como a gente dizia- que iríamos apresentar no sanatório de Divinolândia.
Uma das músicas dizia assim: "não sei se / meu vizinho quer ou não / me enlouquecer com seu piano alemão". Era nossa preferida. A segunda música era o "Cachimbão", ambas cantadas pelos Trigêmeos Vocalistas que, minhas primas juravam, além de cantar e tocar sapateavam. Eram os nossos Andrews Sisters.

Daquela geração de intérpretes curiosos, os que eu mais gostava eram os Trigêmeos e o Bob Nelson - o rei do faroeste, sobre quem falarei qualquer dia desses. Em quase todas as suas músicas eles davam aquele floreio de voz, em falsete, imitando os tiroleses.

Foi algum tempo depois, acho que em uma das comédias da Atlântida, que vi pela primeira vez aqueles três, cara de italianões de bem com a vida, sapateando, cantando de forma harmônica, enfiando larilalá tirolês em tudo quanto era samba.

O conjunto foi criado em 1937 pelos irmãos Armando Carezzato (1917) e os gêmeos Raul (1921) e Humberto, de uma enorme família italiana que morava no Brás, entre a rua Oriente e o alto do Pari. Humberto era o crooner e o cavaquinho, Raul o baixo, e tocava ritmo e flauta, Armando a terceira voz e violão tenor. O sapateado era feito por Humberto e Raul.

Em 1939 foram contratados por Raul Roulien -- cantor brasileiro que fizera sucesso em Hollywood -- para uma temporada no Cassino Atlântico, do Rio. Seu primeiro grande sucesso foi "Linda Baiana", de autoria do trio e de Álfio Miranda. Seu maior sucesso -- eu nem sabia que era deles, mas minha mãe cantava todo dia, e quando a gente ia passar férias em São Sebastião da Grama, o povo de lá gostava bastante - foi o "Sarita" - "adeus Sarita / vou partir para a fronteira / vou levar minha boiada / pra vender lá na feira / Com o dinheiro dessa venda / eu vou comprar / mais uma linha fazenda / e contigo namorar".

Estrearam no Cassino da Urca em 1942, ao mesmo tempo em que Pedro Vargas fazia uma temporada cantando o clássico "Besame Mucho". No Rio, trabalharam durante 22 anos na rádio Nacional, gravando autores dos mais clássicos aos mais extravagantes. "Cachimbão" era de B. Toledo. "Piano Alemão" era música de um certo Nagib. Em 1940, pela Odeon, gravaram "Sacrifício Demais" (Assis Valente e Leandro Medeiros) e "Vieni, Vieni" de Vicente Scotto.

Adoravam músicas que falavam em Zorro, Tigre, Tonto. Mas gravaram sambistas clássicos como "Quem Pode Pode, Quem Não Pode se Sacode" do histórico Bucy Moreira. De Nelson Cavaquinho gravaram "Agora é tarde" ("quem é você / pra dizer que manda no meu lar / agora é tarde / outro amor está no meu lugar"). Compuseram com Grande Otelo, Blackout, Jararaca.

Aposentaram-se em 1971. Faz seis anos que morreu Armando, o mais velho, violão tenor e dono da voz mais aguda. Os gêmeos Raul e Humberto estão firmes na paçoca. No dia 25 de março completaram 80 anos. Ambos moram juntos no Rio e estão passando uma temporada em Guarujá na casa de uma irmã.

Ao telefone, Raul começa a desfiar seus maiores sucessos, como "Dom Pedrito" (Djalma Esteves e Célio Monteiro) -- "lá vem o dom Pedrito / montado num burrico / cantando o...". E o Humberto lascava o tirolês final. O sapateado foi responsável por um de seus maiores sucessos, um fox que dizia:"Eu vou sapatear eu gosto tanto, tanto / de sapatear / se eu pudesse eu sapateava / dia e noite sem parar" (Nicolau Bruni).

Ao todo, gravaram quase 400 discos de 78 rotações. No momento estão passando todos os discos em fitas cassetes. E acham que, devido aos avanços do tempo e da globalização, da modernização dos costumes e tudo o mais, poderão gravar uma música interditada há muitas décadas, com evidente prejuízo para o cancioneiro popular, de nome "Peru de Fora" -- "peru de for não se manifesta / o meu peru é que se faz a festa / com farofa bem fofinha / danço o galo e a galinha / meu peru não sai da roda / rodopia na farinha".




Publicado originalmente em setembro de 2001.

6 comentários:

parla marieta disse...

"TiK Douloureux"? kakakakakaka
faremos nós um trio: você, a Pat e eu, não vai ser boa coisa, hahahahahahahahaha
adorei.
Nome francês, não?

parla marieta disse...

eu gosto tanto... de sapatear... bom bom bom bom....
ksakakakakaka
não é do meu tempo, não, fia.
não sei como esses nomes me passam na cabeça, tick?

parla marieta disse...

tchipi tchipi, tchipi tchipi...

Vera Vilela disse...

Eu, voce e a Pat seremos as Trigemeas Vocalistas... ahahahahahaha
Fico só imaginando...

Vera Vilela disse...

tchipi tchipi Oiiiiiiii
tchipi tchipi Eiiiiiiii

Vera Vilela disse...

TE voi a comprar un bonecito para gozar... na lua de mel...