"Odeur à Nuit"
(Hálito na noite)
©Thaty Marcondes
Os hálitos noturnos choram a falta de teu sangue.
Uma colher transpira a saudade de teus lábios,
desejando-os entre os dentes: deleites de mel e fel,
numa rima batida, puta absoluta do joguete dos amantes.
Afinal, o poeta é maldito,
ou malditos são seus frutos?
Mordo o cálice de vidro barato
tentando sorver o vinho impregnado,
vinagre ácido apodrecido;
minha língua putrefata
derrete-se em moléculas esparsas.
Nem um grito, nem um ai,
de meu peito apertado escapa.
Levanto a túnica de falso brilho,
vou de encontro aos falsários.
Os cafajestes, os solitários,
as musas travestidas de vestais,
seguem falsas pistas buscando o Cálice.
Os hálitos noturnos seguem em busca do teu sangue,
amante maldito que me furta a alma,
arrebenta minhas entranhas,
enfia a adaga em minha carne.
Os hálitos noturnos caem bêbados pela noite,
escorrem na calçada.
E eu, atônita,
em pé, no meio da sala,
bebendo água.
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Anjos de Prata
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