domingo, abril 2

INSENSATEZ - Final de MEIA LUZ


INSENSATEZ
Vera Vilela
(Final do conto Meia Luz)



- Que amor maluco foi esse nosso, Amália?
- Como viver sem seu corpo colado ao meu?
Rodolfo se levanta, suas mãos estão molhadas de sangue. Senta-se na cama e puxa sua amada para seu colo. Ela está fria. Seu rosto brilha com a luz da Lua – testemunha última de seu amor. Rodolfo beija desesperadamente o rosto de Amália. Ele acaricia sua cabeça e chora desesperadamente. Ouve, ao longe, a sirene da ambulância. Dentro em pouco levarão sua Amália para sempre – longe dele. De repente percebe a presença de sua amada ali no quarto, bem ao seu lado. É capaz de sentir a energia do amor que sempre os uniu. Solta o corpo frio e estende os braços.
- Venha Amália! Leve-me com você!
Rodolfo pega uma adaga sobre a cama. Segura com as duas mãos, encosta no peito. Ouve um apelo:
- Não meu amor! Não faça isso!
Ele se detém por minutos...
Nesse instante dois enfermeiros abrem a porta do quarto e arrancam a adaga de suas mãos. Ele suplica, inutilmente, que a devolvam. Em seguida chega um médico que examina Amália e manda que a levem imediatamente para a ambulância.
Rodolfo os segue e sente algo tocar em seu ombro. Pára e fica de longe observando os acontecimentos. Os enfermeiros levam Amália para dentro do carro, que sai em disparada no meio da noite.
Sentado no meio fio ele apenas vê o movimento de crianças de rua que correm para se abrigar da chuva que começa a cair. Sente os cabelos molharem e a chuva escorrer pelos seus braços, levando embora o cheiro do sangue. Olha ao lado e vê Amália sentada. Fitando-o. Tem um sorriso nos lábios e estende suas mãos.
- Vamos Rodolfo! Vamos dançar!
- Ainda não minha querida. Preciso arrumar um jeito de te seguir.
- Venha Rodolfo! - ela dizia e rodopiava no asfalto molhado. Ele a observa durante muito tempo. Ela cantava e dançava. Ele não conseguia tocá-la. Imaginava que talvez ela de nada soubesse. De repente:
- Rodolfo! Me segure! Estão me puxando! Estou indo embora! Me segure!
Ele tenta inutilmente segurá-la, mas suas mãos transpassam seu corpo, seus braços. Vê Amália desintegrar-se ali em sua frente. E chora novamente.
Chega a polícia que rapidamente o algema e o leva para dentro da viatura.
- Rapaz! Você está preso por tentativa de assassinato.
- Tentativa?
- Você tem sorte. A mulher que você esfaqueou, sobreviveu.
FIM

veja aqui a 1ª parte e 2ª parte