domingo, fevereiro 5

LEMBRANÇAS


LEMBRANÇAS

Marcas roxas em minha pele macia
É o modo de atenção e amor que recebi
Deste adulto que chamo: meu papai querido

Quem manda eu ser moleque
No alto dos meus quatro anos
E fazer da vida o que quero

Queria muito me saber amado
Por suas mãos ser afagado
Mas de você só recebo sopapo

Minha mãe tudo vê e nada faz
Absorta em seu mundo de sonhos
Não percebe meus olhos tristonhos

Não posso mais te abraçar
Porque você não me defende?
Me afaste de vez deste demente

Mamãe, não sei se o seu medo
É muito maior que o meu
Sua surra é psicológica, desde cedo

Não adianta tentar, nada o satisfaz
Nem notas boas, nem super inteligência
Não consigo ser o que ele quer.

Estou quase na adolescência
E ainda tratado feito criança
Me deixem crescer, é minha exigência

Fiquei lindo, sou paquerado
Mas em casa?
Continuo saco de pancadas

Parece que não vejo futuro
Pra frente é tudo escuro
Quero coragem para pular o muro

Sei que a solução chegará
Um dia tudo isto passará
E tudo será apenas LEMBRANÇAS.

De uma triste e eterna CRIANÇA!

***

Vera Vilela
Atrás de uma criança espancada sempre tem uma mãe subjulgada, humilhada e igualmente torturada, pela mesma pessoa.

3 comentários:

Anônimo disse...

Vera,
não sei de onde você tirou a "inspiração", mas sei que é deste mundo mesmo, fatos que a gente prefere fazer de conta que inexistem, de tão doloridos que são.
Admiro demais pessoas corajosas como assistentes soiciais, de profissão oo de desempenho, pessoas que têm coragem pra atuar no sentido das possiblidades latentes, de que cada pessoa envolvida no conflito consiga desabrochar à sua própria maneira, se libertar e reconstruir sua vida.
Saúde !

parla marieta disse...

UIA!
abriu!
vou ler tudo, que gostoso!

parla marieta disse...

Vera, estou pasma com a sua conclusão de que a cada criança espancada há uma mulher humilhada, subjugada, pela mesma pessoa.
Será?