terça-feira, março 28

VISÃO DO INFINITO - 2ª parte de MEIA LUZ


VISÃO DO INFINITO
Vera Vilela
(segundo capítulo do conto - Meia Luz)



Ali estava meu amado, Rodolfo, todo encolhido no canto da parede, braços cruzados e olhos fixos no corpo inerte. Quanta estupidez!
Exageramos na dose: foi amor demais. Foi tanta emoção, tanto amor, tanta paixão. As loucuras que fizemos nesse quarto passaram do ponto. Apesar de ser apenas essência do meu ser, posso sentir seu perfume, seus dedos e sua boca deslizando sobre o meu corpo. Posso ainda ver nossa energia suspensa neste ambiente. São pontos pequeninos de luz azul, laranja e vermelho. Nosso ato hoje foi como um ritual macabro de amor e paixão. Nem sei de onde veio aquela adaga e como estava ali em minhas mãos.
Dançamos coladinhos, experimentamos sensações máximas de amor, sedução e prazer. Chegamos bem perto da sensação maior de sermos deuses. Acho que isso deve ter ferido alguma norma etérea, não nos era permitido tanto. Quando entreguei a adaga a Rodolfo, minha sensação era um desejo imenso de ser cortada, de sangrar. Sentia-me estranhamente cheia, transbordante. Precisava de algo que rompesse a casca do meu corpo.
Rodolfo, completamente hipnotizado pelo momento mágico, segurou a adaga e com apenas um golpe abriu meu peito. Senti o sangue quente correr entre os seios e inundar minha barriga. Aos poucos fiquei sonolenta e sentia ao longe a voz de Rodolfo:
- Não me abandone Amália! Não me deixe! Que loucura eu fiz!
Eu apenas sentia o derradeiro prazer do sono. Os lábios de Rodolfo captaram meu último suspiro. Senti apenas meu corpo leve, flutuando no quarto. Agora vejo apenas meu grande amor, no canto da parede com o olhar fixado em meu corpo inerte. Ele balbucia algo, parece a letra de uma nossa antiga canção. Não consigo ir embora. Sinto-me presa a ele como se agora fôssemos apenas um.

2 comentários:

parla marieta disse...

Encanta, senhor, encanta!

Anônimo disse...

Keep up the good work
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