quinta-feira, abril 26

A HORA DE “NÃO FALAR”


A HORA DE “NÃO FALAR”
Vera Vilela

Desde pequena me atrevo a ter invencionices, lembro-me bem que convenci minha irmã que se eu apertasse meu pescoço com as duas mãos e respirasse com força, eu ficaria muito forte, tão forte que ela não mais conseguiria me bater. Não sei direito como isso funcionava, se aumentava minha auto estima – sei lá – só sei que ela ficava realmente com medo de mim.

Eu tinha mania nessa época de sair para explorar o matinho perto de casa e achar objetos que pertencessem a civilizações extraterrestres. Em uma dessas minhas viagens encontrei um objeto estranho a qual denominei de “pedra de pau”, só mesmo sendo um objeto de outro planeta para poder ser assim, uma “pedra de pau”. Santo Cristo, não passava de um pedacinho mesmo de pau. Mas minha imaginação substituía tudo aquilo de material que eu não podia ter.

Por este motivo, me acho agora no direito de ousar mais um decreto, após o grande sucesso do “Dia de Mim” resolvi agora decretar a “Hora de não falar”. Para começar, esta hora deverá ter algumas regrinhas como, por exemplo:

- A “Hora de não falar” será designada sempre pela interessada, ou seja, eu mesma;
- Durante exatamente uma hora, menos ou mais, conforme o meu próprio interesse, eu não proclamarei nenhuma palavra;
- Durante a “Hora de não falar” será proibida qualquer interrupção, seja pelo motivo e por quem seja, incluindo principalmente filhos;
- Esta hora deverá ser gozada, de preferência deitada – na rede ou na cama – com musica relaxante ao fundo, incensos acesos e sem barulhos pela casa.
- Durante esse período eu deverei fazer meditação em prol do amor à humanidade, ou outro motivo que seja importante para mim;
- Caso eu esteja com os olhos fechados não será tomado como sono e sim apenas como um exercício de relaxamento das pálpebras;
- Caso algum ruído seja emitido pela minha garganta, não será tomado como ronco e sim como sons guturais para meditação.
- Em nenhuma hipótese poderei ser interrompida, a não ser em caso de extrema urgência, como uma amiga no telefone querendo ensinar a mais nova dieta inventada.

Como podem ver, é coisa simples e fácil, apenas momentos que poderei colocar as idéias em ordem, relaxar e quem sabe até tomar decisões importantes sobre o futuro. Nesse caso, os filhos terão que respeitar muito porque, de repente, se for atrapalhada, posso pensar no futuro daquele dinheirinho do fim de semana.

E tenho dito!


(01-2004)

Um comentário:

Aristeu disse...

Minha amiga, no intuito de ajudar-te, nesta missão impossível para os escritores, proponho-te também "Uma hora para ouvir" e, pra ser maior castigo, proponho-te a "Voz do Brasil" ou a "Voz do Congresso" Kkkkk