Vera Vilela
Não há quem negue que uma viagem nos anima, dá forças, alegria. Somente imaginar uma saída do nosso planetinha e arriscarmos um vôo mais longe já ficamos com aquela ansiedade e desejo que os dias se passem rápido. E dessa vez não foi diferente.
Decidi assim de repente que iria para Orien afinal, já há bastante tempo que queria conhecê-lo. Ouvi muito sobre ele, sempre chamado de Planeta Espetacular, dizem que o supremo mestre estava inspirado quando resolveu criá-lo. Com uma beleza natural especial. Vi várias fotos e pontos turísticos simplesmente maravilhosos, mesmo neste atual milênio quando quase não se vê mais a antiga natureza nativa. Por lá ainda se acha muita água, terra, vegetação e uma claridade especial devida a sua aproximação da estrela Zignus.
E assim planejei meu passeio. Muito filtro estelar, cremes umedecedores para a pele, vestimentas arejadas e calçados especiais para andar (coisa que não faço há bastante tempo). Eu não poderia levar muita coisa, pois o teletransportador não aceita cargas muito pesadas. Ouvi conselhos muitos parecidos de amigos e parentes:
- Cuidado! Nem tudo é como se vende nesta galáxia!
Enfim chegou o grande dia e me apressei para chegar a Central Interplanetária. Um amigo me levou em seu veículo duplo de locomoção, aliás, um pouco apertado, mas... valeu para seu fim. Pousamos na Central bem antes do horário, ele se foi e eu me dirigi à sala de teletransportes. Apesar de já ter feito tantas viagens sempre me dá essa euforia quando chego aqui, tantas pessoas indo e vindo. Recepções alegres, despedidas tristes. É um clima emocionante mesmo.
Cheguei até a patrulha e estendi minha mão até o leitor ótico. Um feixe de luz passou sobre minha mão e liberou meu embarque. Nunca me esquecerei o dia que cheguei para a viagem e tinha simplesmente esquecido de reservar o horário, quando o leitor não encontrou a reserva quase me deu um pane, acho que herdei essa distração de antepassados muito longínquos.
Entrei e assumi meu lugar no teletransportador – 23DR45X – havia vários vagos, nesta época do ano normalmente as viagens são poucas.
Em minutos já percebi o raio de luz inundar a cabine e aquela sensação nauseante (como sempre) tomou conta de mim. Tudo escureceu para em microssegundos se clarear e eu já estar no Planeta Espetacular! Impossível não me emocionar apenas por me saber lá.
Neste instante de divagação já senti uma mão me puxando para fora, esqueci que a saída precisa ser rápida, caso contrário outra pessoa pode se materializar ao meu lado e nem quero imaginar o resultado que isso poderia.
- Vamos! Saia daí! Está atrapalhando o tráfego!
- Obrigada pelas boas vindas – senhor! Ironizei.
Ele já nem estava mais ao meu lado quando respondi. Devia estar num mau dia. Apenas isso.
Passei pela patrulha, estendi o braço rapidamente porque atrás de mim várias pessoas empurravam. Acho que cheguei num péssimo dia!
Respirei aliviada quando vi Onarebe acenar para mim do lado de fora. Corri ao seu encontro e trocamos um abraço apertado. Apesar de nossas comunicações quase diárias trabalhando na mesma organização, nunca havíamos estado juntos. Eu passaria estas férias com ele e sua família.
Por não ser da raça do Planeta local, Onarebe não podia ter sua autorização para usar os veículos aéreos, portanto precisamos contratar um condutor. Fomos até a divisão de transporte aéreo local e contratamos um. Tratamos do valor, do itinerário e pronto. Quando entramos no veículo e ele levantou vôo, quase tive um desmaio, a velocidade com que aquele condutor saiu dali era absurdamente excessiva! Curiosamente isso não chamou a atenção de ninguém! Como podia um veículo estar a tal velocidade e ninguém olhar? O controle de velocidade era igual em toda a galáxia. Em menos de 3 microssegundos chegamos até nosso destino. O condutor virou-se então para Onarebe e cobrou simplesmente o dobro do que tinham combinado.
- Mas de jeito nenhum! Combinamos isso e eis aqui seu crédito. Disse isto colocando seu cartão sobre o veículo e digitando seu código.
Largou o condutor lá parado, que ficou sem entender porque não conseguiu enganar este ser.
Entramos em sua residência e conheci seus familiares. Todos muito gentis. Fazia muito tempo que eu não via uma casa de verdade, com cômodos, quartos separados, flores, plantas – uma família!
Aproveitei o resto do dia para descansar um pouco e conversar bastante com aquela gente tão especial. Eles tinham um carinho uns com os outros que hoje em dia é coisa rara de se ver.
No dia seguinte fomos dar uma volta nas redondezas, eu iria conhecer a vegetação daquele planeta, para tanto Onarebe me levou até uma reserva florestal ali perto. Não iríamos voando, iríamos caminhando.
No caminho fui notando coisas, naquele até então paraíso: inacreditáveis. Mal podíamos caminhar no corredor de pedestres. Havia veículos aéreos por toda parte. Largados ali de qualquer maneira, amontoados pelos seus donos. Por duas vezes quase fomos atropelados por veículos terrestres que, desobedecendo aos sinais de pedestres, simplesmente nos ignoravam! Meu Deus! O medo tomou conta de mim, olhei rapidamente para os lados procurando um patrulheiro planetário ou mesmo galáctico e nada... Nenhum protetor a vista, aliás, durante o período que fiquei no Planeta Espetacular vi apenas um veículo de patrulha. O jeito era eu me cuidar.
Com muita dificuldade chegamos até a reserva. Que imagem bonita. Uma vasta vegetação, animais silvestres, água, chão legítimo de terra, dava até vontade de tirar o sapato protetor.
Logo na entrada já vimos um riacho cheio de despejos domésticos, muita sujeira agarrada na vegetação em suas beirada. Como podiam fazer isso?
Tentei esquecer do rio e continuei minha caminhada com o amigo. Aos poucos o clima úmido natural da floresta foi dando uma deliciosa sensação, a respiração ali dentro era fácil, profunda, inesquecível.
Andamos por algum tempo e resolvemos voltar para sua casa. Iríamos visitar o famoso “Olhos de Águia” no dia seguinte. E assim fizemos.
Nos levantamos cedo. Me preparei com uma roupa confortável porque a caminhada seria longa, o famoso monumento ficava no alto de uma montanha, era visto por quase toda a cidade. Na antiguidade foi presente de estrangeiros para o Planeta Espetacular.
Andamos muito e pude fazer uma análise daquele planeta, que pena!
Um lugar tão famoso, uma natureza maravilhosa, mas, um povo tão sem consciência do presente divino que receberam. Reclamam muito da violência que existe por lá, mas, acho que isso faz parte do todo. O povo não respeita as mínimas leis de convivência no planeta então os bandidos perigosos é que não vão respeitar mesmo ninguém. Parece que há um acordo entre todos, ninguém reclama, como se fosse assim: Eu não respeito às leis, a vegetação, os animais e, os bandidos tomam conta da cidade. Assim vivem todos à sua moda.
Tive medo em imaginar-me morando ali. Não. Jamais.
Chegamos finalmente ao monumento. Uma grande águia com suas asas abertas como se tentasse em vão proteger o planeta. Seus olhos eram dois faróis que iluminavam toda a praia bem a sua frente durante a noite. Era muito grande e imponente. Fiquei emocionada com a imagem.
Durante a volta fiquei meditando com a imagem daquela gigantesca escultura em minha mente.
No dia seguinte iríamos todos à praia, mas, o meu medo de violência foi maior que a vontade e resolvi me despedir dos amigos, apesar dos protestos deles. Antecipei minha reserva e disse adeus ao Planeta não antes de me cobrarem uma porcentagem a mais por eu ter bebido água na entrada da Central e também um adicional pela volta (que era muito mais cara que a ida).
Quando finalmente entrei em meu microapart e me deitei, fiquei lembrando de tudo aquilo que havia visto por lá. É triste, muito triste ver um Planeta a beira de um colapso. Minha próxima viagem certamente será para algumas das ilhas virtuais que tenho ido nos últimos anos.
3 comentários:
Muito bom! Espero que continue a viagem para nosso deleite.
Géber Accioly
Muito legal essa viagem!Parecia que eu tambem estava la.Muito interessante.Um abracao ,querida amiga.Viu o meu album?
:o))
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