AMORES VIRTUAIS
Vera Vilela
Vera Vilela
Tudo o que ela queria era se sentir amada, ter um carinho, ainda que fosse virtual. Pensou bem e decidiu que aquele poderia ser o seu amor de "faz de conta".
Durante algum tempo, ela se aproximou dele, aceitou suas cantadas batidas, suas palavras já cem mil vezes repetidas.
Seus poemas eram antigos, muitas já o leram, acharam maravilhosos os versos de amor!
Mas para ele, era tudo muito simples, um e-mail, um poema e várias destinatárias. Algum tempinho depois ele teria muitas respostas apaixonadas e carentes.
Ela continuou com seu jogo de sedução, ele aproveitou.
Ele disse da enorme vontade em conhecê-la, e ela delirou de alegria, chegou a chorar de emoção com suas palavras genialmente calculadas.
A mulher carente apenas esqueceu de um detalhe. Ele sempre se disse tão sem recursos, funcionário de uma loja, ele exercia a função de ajudante de copiadora - ganhava muito pouco. Mas ela era uma pessoa com a situação financeira definida. Tinha uma empresa de produtos naturais e faturava uma fortuna mensalmente.
Após meses de extrema provocação por parte dele, veio o golpe fatal!
Um telefonema do amor da sua vida dizendo:
-Minha Amada Criatura! Estou acometido de uma doença desconhecida e luto por minha vida. Minha única chance é um remédio importado, mas jamais teria condições financeiras para adquiri-lo.
Ela chorou, se descabelou e ofereceu ajuda a ele. Mas seu amor não aceitou o dinheiro e disse que se sentiria muito mal se tivesse que recorrer justamente a ela. Poderia parecer que ele estava se aproveitando da situação.
Então, ele pediu a ela que entrasse em contato com uma sua irmã que morava no interior e avisasse a ela seu estado de saúde.
Extremamente abalada, ela fez o que o amado a pedira. Chorava sem parar e quando a tal irmã atendeu ao telefone já disse:
-Nem tente se negar a aceitar minha ajuda! Estou depositando hoje mesmo o dinheiro para comprar o remédio de seu irmão, me dê o número de sua conta.
É claro que a falsa irmã se fez de coitadinha, tentou se negar a receber o dinheiro e por fim a fez prometer que nunca contaria nada a ele.
Pegou os dados da moça e fez o depósito na hora!
Passaram-se então 10 dias sem notícias dele. O celular não mais atendia. No telefone anotado da irmã, diziam não conhecer ninguém com aquele nome. Ela então começou a se preocupar. Resolveu ir até aquela cidadezinha no interior a procura dos irmãos.
Lá chegando, conseguiu o endereço que o número daquele telefone estaria instalado. Achou uma velha senhora que dizia ter tido uma moça como empregada, mas, após uma semana de trabalho foi embora.
Muito triste e confusa voltou até a rodoviária para pegar o ônibus de volta, quando entrou com os olhos vermelhos o motorista coçou a cabeça e disse:
- Esta cidade tem algo de muito triste, em 10 dias eu acho que já transportei umas 20 moças chorosas, estranhas à cidade. Coisa esquisita!
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