sexta-feira, fevereiro 2

AMORES VIRTUAIS


AMORES VIRTUAIS
Vera Vilela



Tudo o que ela queria era se sentir amada, ter um carinho, ainda que fosse virtual. Pensou bem e decidiu que aquele poderia ser o seu amor de "faz de conta".

Durante algum tempo, ela se aproximou dele, aceitou suas cantadas batidas, suas palavras já cem mil vezes repetidas.

Seus poemas eram antigos, muitas já o leram, acharam maravilhosos os versos de amor!

Mas para ele, era tudo muito simples, um e-mail, um poema e várias destinatárias. Algum tempinho depois ele teria muitas respostas apaixonadas e carentes.

Ela continuou com seu jogo de sedução, ele aproveitou.

Ele disse da enorme vontade em conhecê-la, e ela delirou de alegria, chegou a chorar de emoção com suas palavras genialmente calculadas.

A mulher carente apenas esqueceu de um detalhe. Ele sempre se disse tão sem recursos, funcionário de uma loja, ele exercia a função de ajudante de copiadora - ganhava muito pouco. Mas ela era uma pessoa com a situação financeira definida. Tinha uma empresa de produtos naturais e faturava uma fortuna mensalmente.

Após meses de extrema provocação por parte dele, veio o golpe fatal!

Um telefonema do amor da sua vida dizendo:

-Minha Amada Criatura! Estou acometido de uma doença desconhecida e luto por minha vida. Minha única chance é um remédio importado, mas jamais teria condições financeiras para adquiri-lo.

Ela chorou, se descabelou e ofereceu ajuda a ele. Mas seu amor não aceitou o dinheiro e disse que se sentiria muito mal se tivesse que recorrer justamente a ela. Poderia parecer que ele estava se aproveitando da situação.

Então, ele pediu a ela que entrasse em contato com uma sua irmã que morava no interior e avisasse a ela seu estado de saúde.

Extremamente abalada, ela fez o que o amado a pedira. Chorava sem parar e quando a tal irmã atendeu ao telefone já disse:

-Nem tente se negar a aceitar minha ajuda! Estou depositando hoje mesmo o dinheiro para comprar o remédio de seu irmão, me dê o número de sua conta.

É claro que a falsa irmã se fez de coitadinha, tentou se negar a receber o dinheiro e por fim a fez prometer que nunca contaria nada a ele.

Pegou os dados da moça e fez o depósito na hora!

Passaram-se então 10 dias sem notícias dele. O celular não mais atendia. No telefone anotado da irmã, diziam não conhecer ninguém com aquele nome. Ela então começou a se preocupar. Resolveu ir até aquela cidadezinha no interior a procura dos irmãos.

Lá chegando, conseguiu o endereço que o número daquele telefone estaria instalado. Achou uma velha senhora que dizia ter tido uma moça como empregada, mas, após uma semana de trabalho foi embora.

Muito triste e confusa voltou até a rodoviária para pegar o ônibus de volta, quando entrou com os olhos vermelhos o motorista coçou a cabeça e disse:

- Esta cidade tem algo de muito triste, em 10 dias eu acho que já transportei umas 20 moças chorosas, estranhas à cidade. Coisa esquisita!

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