quinta-feira, fevereiro 1

UMA CARONA INUSITADA


UMA CARONA INUSITADA
Vera Vilela



Durante mais de dois anos trabalhei em uma cidade distante de minha casa exatamente 35 quilômetros. Toda essa distância era percorrida por uma estrada vicinal que tinha mais buracos que asfalto.

Dos dois lados da estrada o que eu via eram apenas plantações de cana de açúcar a perder de vista.

Por toda a estrada o tráfego principal era de treminhões, aqueles caminhões enormes que carregam cana.

Quando saía mais tarde do trabalho enfrentava a escuridão total, dependendo da lua, às vezes era até gostoso ver o céu estrelado e a lua brilhando no céu.

Eu nunca fui uma pessoa medrosa e nunca acreditei em fatos sobrenaturais, por isso essas viagens diárias eram normais para mim.

Numa dessas noites, aliás, uma noite escura, com céu encoberto: sai bem tarde do serviço. O trânsito neste horário era quase inexistente e logo acendi os faróis do carro. Andei por volta de oito quilômetros onde eu desviaria para outra estrada, diminuí a velocidade, liguei a seta e entrei devagar no trevo de acesso. Avistei uma mulher esperando uma carona com um bebê no colo e logo imaginei ser uma criança precisando de um médico.

Parei o carro e deixei que a mulher se acomodasse no carro, ela se sentou no banco de trás e me contou que ficaria logo a frente, uns três quilômetros, na casa de sua mãe. Dizia que ela devia estar preocupada porque faziam dois dias que não se falavam, e que não conseguiu ir até lá a pé.

E assim fiz, mas, por gentileza entrei na cidade e a deixei na casa de sua mãe. Somente quando cheguei em minha casa, vi no banco de trás uma manta de lã que deveria ser do bebê. Resolvi voltar lá no dia seguinte e devolvê-la.

Cheguei na casa dela muito cedo, por volta das 7:30 horas. Quando a dona da casa me viu com a manta na mão – veio em meu encontro e disse:

Onde achou essa manta? É de minha netinha! Minha filha desapareceu há dois dias com ela e ninguém tem notícias.

Contei àquela senhora a minha história, mas, ela não acreditava no que eu dizia. Mas eu vi a mulher entrar na casa!

Achei melhor sair para colocar as idéias em ordem, o irmão da moça veio até mim e disse ter ouvido o que eu falei e me propôs que eu o levasse até o trevo onde encontrei a sua irmã.

Fomos então até o trevo e mostrei ao rapaz o local exato onde estava sua irmã. O rapaz então olhou ao redor e avistou por cima do canavial algumas roupas.

Fui com ele até o local e o que vimos foi horrível, vou dizer apenas que lá estavam os corpos da mulher e da criança, ambos nus e sem vida.

O assassino foi preso, fiquei sabendo que fora um homem que parou para dar carona a mulher. Acharam no local um documento que provavelmente caiu da roupa do bandido.

22/06/2004

Um comentário:

car&san disse...

Nossa! Fiquei arrepiada! Pena que sua carona nao aconteceu dois dias antes, nao e? Que historia incrivel!Beijocas.