segunda-feira, maio 7

MEU PRIMEIRO AMOR


MEU PRIMEIRO AMOR

Vera Vilela

Era o tradicional Baile da Primavera, eu com um vestido de frente única amarelo, todo florido, nas costas um cordão do mesmo tecido transpassado varias vezes.
Os cabelos lisos, compridos e bem arrumados. Uma maquiagem leve como sempre gostei e uma sandália de salto alto.

Os hormônios dos 15 anos pediam um amor daqueles de cinema - arrebatador, e nesse dia ele chegou.

Entrei no salão e me dirigi para a mesa, o conjunto começou a tocar músicas românticas e eu ali passeando o olhar pelas pessoas, as mulheres, em sua maioria, sentadas e os homens em pé procurando um par para dançar.

Minha irmã mais uma vez me desafiou a conseguir dançar com um rapaz que, como ela disse, era o mais bonito e mais paquerado do salão. Apontou pra ele de blusa vermelha, preta e branca.

Meu olhar chegou até ele no mesmo instante que o dele chegou ao meu. Imediatamente um tremor tomou conta de todo o meu corpo, uma sensação esquisita que eu nunca havia experimentado antes, fiquei ali com o olhar preso ao dele por alguns minutos. Era lindo! Cabelos negros, um pouco enrolado, uma boca linda, olhos pequenos, mas com um brilho intenso.

Ele foi se aproximando, sem tirar seus olhos de mim, e estendeu a mão.
- Vamos dançar?

Eu não conseguia dizer uma palavra, estava hipnotizada por aquele olhar.

Fomos até o meio do salão , já cheio de casais, ele passou seus braços por debaixo dos meus me obrigando a enlaçar seu pescoço.

Juntamos nossos corpos trêmulos, quentes, e começamos a nos embalar ao ritmo da música que tocava:

“And she would sing sha na na na na na na na ...
It will be all right sha na na na na na....
Sha na na na na na na na ...
Now just hold on tight”


A música era divina ou era divino o momento, não sei. Foi uma paixão automática, ele entrou em mim com aqueles olhos desejosos, impossível conter aquele beijo. Nossos lábios se uniram e nossos corpos pareciam flutuar no meio do salão.

Eu nunca havia experimentado essa união de corpos e almas, parecia embriagada de amor. Foi um beijo longo, não queríamos mais parar, foi uma experiência única e eterna. Um primeiro e verdadeiro beijo de amor.

Dançamos outras músicas assim, neste estado de magia amorosa, sem cansar, nossos corpos se embalando, se sentindo, beijos e mais beijos, abraços apertados, sorrisos marotos e quase nenhuma palavra.

No final da seleção de músicas eu fui para a mesa e ele foi até o bar, era visível meu encantamento e minha ansiedade para que novamente a música começasse a tocar.

E assim foi até o final do baile. Saí dali renascida, entrei uma menina e saí uma mulher apaixonada.

Na segunda-feira seguinte , logo cedo, uma ligação em meu trabalho, era ele!

Todos á minha volta percebiam meu estado de mulher completamente apaixonada. Naquele mesmo dia ele veio me buscar no trabalho e me levou até o colégio, nos beijamos muito e acabei perdendo a hora de entrada, mas nada disso me importava, eu queria mesmo era viver todo esse amor.

Apesar da pouca idade dele, já dirigia, e passou a me buscar quase todos os dias além de nos falarmos muito ao telefone.

Fomos juntos ainda em vários outros bailes, discotecas e muito namoro no carro. Namoro de adolescente, claro, muito abraço, muitos beijos, muita conversa e muito pouco a mais que isso.

Eu não queria saber de mais nada na vida, comecei a ir mal na escola, não havia como me concentrar, quando não estávamos juntos, eu estava recordando nossos momentos. Antes de dormir ficava curtindo nossos encontros em pensamento.

Era amor demais. Poucos dias após nos conhecermos ganhei uma aliança dele, de prata, mas tinha um significado muito grande pra mim.

Após três meses de namoro, muita paixão, muito desejo, ele pediu que eu não entrasse na aula, gostaria de dar uma volta comigo. E fomos. Ele parou o carro num local mais tranqüilo e escuro e começamos a namorar. Foram muitos beijos, muitos abraços e de repente carinhos mais íntimos.

Eu não conseguia ir adiante, não podia, em minha cabeça vinham todas aquelas pessoas que diziam:
- Menino bonito, rico, só quer se aproveitar de você e sumir.

Afastei-o de mim e pedi que me levasse embora.
Ele não reclamou, nada falou.

Era uma sexta-feira de dezembro, 1975, quatro dias antes do meu aniversário. Havíamos combinado de nos ver no dia seguinte, no clube, um baile muito esperado.

Como sempre: me arrumei toda, vestido e sapatos novos e aquela ansiedade em estarmos juntos.

Cheguei ao salão e ele ainda não estava, sentei-me e esperei.
O tempo passou, tocou duas seleções de músicas e quando eu me dirigia ao bar, o vi chegar.

Ele entrava de mãos dadas com uma garota. Fiquei paralisada, sem poder fugir, sem falar e quase sem respirar. Estava ali o primeiro e grande amor da minha vida ao lado de uma pessoa que eu nunca vi, e de mãos dadas. Gelei.

Ele se aproximou, me cumprimentou e disse, olhando para a menina:
- Oi, esta é minha namorada.

Eu nada disse, apenas me virei e corri até o toalete, arranquei a aliança do dedo, joguei no lixo e chorei, chorei muito, soluçava, não conseguia mais parar. Algumas amigas chegaram e me viram naquela situação, desesperada.

Com a ajuda delas, lavei o rosto, tentei me recuperar e fomos embora.

Eu nunca tive uma explicação sobre aquilo, nem uma palavra, nada.

Curti a “fossa” por dois anos seguidos, lembrando dele todos os dias e todos os momentos da minha vida, mudei de escola para ficar perto dele, mudei de curso e fui para a mesma sala. Mas nunca conversamos sobre isso, trocávamos apenas algumas palavras.

Eu emagreci assustadoramente, fiquei anoréxica, tive problemas renais graves, fiz uma cirurgia, perdi o ano da escola. Tudo por aquele amor.

Foi a grande paixão da minha vida que somente com o passar dos anos foi se abrandando.

Eu me casei, ele também, cruzamos olhares ainda por muitos anos, mas apenas isto, nada mais.

8 comentários:

Aristeu disse...

Vera, um dia desses eu vi minha primeira namorada. Tremi, mas foi de medo. Kkkkkk. Ficou horrorosa.

Vera Vilela disse...

Xi, será que acontecerá o mesmo comigo???
:(

parla marieta disse...

Vera, isso aconteceu de fato?
Que safado!
je t'aime!

parla marieta disse...

ocê tomém tirou as letrinha?

Vera Vilela disse...

Marieta, ele não era safado, era simplesmente um homem, eu é quera ainda muito imatura e sonhadora.
Simples assim!

Unknown disse...

Eu fui testemunha,ele era lindo,mas a nossa criação era outra.Infelizmente o mundo era só dos homens,pobres munheres.....deixa p/lá.O importante é que estamos aqui lindas e maravilhosas.bjus.madazé.

Vera Vilela disse...

Madazé, será que ele virou um bagulho igual a namorada do Aristeu ali em cima?
Fazem muitos anos que não o vejo.
Tomara que tenha virado...
hahahahahahaha (risada de bruxa)

Unknown disse...

Faz muito tempo que não o vejo,mas a últma vez que o vi ainda continuava bonito,hoje não faço a menor idéia.A familia parece-me que já não faz parte de Mauá.Vc sabe os donos da cidade,os que não foram a falência mudaram-se.O mais engraçado é que aqueles de nariz empinado dá até dó de se ver,uns pobres coitados.Mas eles fizeram p/mereçer.Bom eu tmb vou seguir a música que vc colocou....bjus. madazé.