sábado, janeiro 27

NOITE DE SEDUÇÃO


NOITE DE SEDUÇÃO
Vera Vilela


Aquela noite era meu prazo limite. Eu controlaria meu ímpeto fugidio. Vesti aquela roupa de "mamãe quero namorar" e armei de meu olhar feérico.

Conferi tudo: sapatos pretos, vestido frente única florido em tons de vermelho, cabelos cheirosos e soltos, batom sabor morango e brincos dourados: perfeita sintonia.

Apesar da garatuja de Fred - o gato - com os dedos molhados em saliva apaguei a chama da lamparina e saí.

Planejei todas as minúcias desse dia, nada poderia dar errado. Eu contava com o meu conhecimento da causa e do meu poder de sedução.

No caminho até a casa dele não me deixei levar pelo meu cérebro fantasioso, me mantive calma e segura, afinal eram anos estudando e planejando este momento.

Estava escuro, nuvens cobriam a lua minguante. O ar estava úmido e eu ouvia ao meu lado a voz da noite, pios e ruídos estranhos que vinham da mata.

De repente a bicicleta não atendia mais ao meu comando, derrapava na estrada de terra molhada. Após alguns minutos vi que seria impossível continuar sobre ela, o barro estava fundo.

Parei e resolvi continuar o caminho a pé. Meus pés afundavam na lama e antes que eu pudesse pensar em qualquer coisa, me vi ali: de cara no chão. Quanto mais cuidado eu tentava ter, mais eu me sujava.

Finalmente me levantei - completamente enlameada -, triste e chorosa. Mais uma vez teria que adiar o encontro. Até hoje foram várias tentativas em vão.

Tirei os sapatos e resolvi empurrar a bicicleta até em casa.

Que decepção!

Depois de alguns metros senti alguém a me seguir. O medo tomava conta de mim e por mais que quisesse correr o chão me prendia.

Senti uma mão a me segurar pelo braço e soltei um grito de pavor. Tentei correr, mas este ato fez com que eu caísse levando sobre mim o terrível ser que me segurava.

- Calma menina! Você demorou e vim conferir se estava tudo certo.

Ele disse isso e se apercebeu de nossa situação. Eu caída na lama e ele sobre mim.

Até tentei falar alguma coisa, mas tudo o que eu tinha planejado dizer foi abafado com o beijo que, irresistivelmente, ele me deu, fechando-me os lábios e abrindo seu coração.

N.A.: Conto criado para a oficina dos Anjos Caídos.

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