quinta-feira, janeiro 18

"ODEUR À NUIT"

"Odeur à Nuit"
(Hálito na noite)

©Thaty Marcondes

Os hálitos noturnos choram a falta de teu sangue.
Uma colher transpira a saudade de teus lábios,
desejando-os entre os dentes: deleites de mel e fel,
numa rima batida, puta absoluta do joguete dos amantes.

Afinal, o poeta é maldito,
ou malditos são seus frutos?

Mordo o cálice de vidro barato
tentando sorver o vinho impregnado,
vinagre ácido apodrecido;
minha língua putrefata
derrete-se em moléculas esparsas.
Nem um grito, nem um ai,
de meu peito apertado escapa.
Levanto a túnica de falso brilho,
vou de encontro aos falsários.
Os cafajestes, os solitários,
as musas travestidas de vestais,
seguem falsas pistas buscando o Cálice.

Os hálitos noturnos seguem em busca do teu sangue,
amante maldito que me furta a alma,
arrebenta minhas entranhas,
enfia a adaga em minha carne.

Os hálitos noturnos caem bêbados pela noite,
escorrem na calçada.
E eu, atônita,
em pé, no meio da sala,
bebendo água.


MAIS THATY MARCONDES EM:

A Flor da Pele

Litterapura

Blocos Online

Anjos de Prata

Creative Commons License

Esta obra está licenciada sob uma
Licença Creative Commons.

Nenhum comentário: